Os segredos da aranha

"Vendo-se só com a Aranha, a boneca regalou-se de fazer quantas perguntinhas quis.
- Acho muito bonito esse seu sistema de trazer o carretel dentro da barriga - disse ela. - Só não compreendo como a senhora faz para engolir um carretel...
- Eu não engulo carretéis, menina - explicou a Aranha. - Nós nascemos com o carretel dentro.
- E quando acaba?
- Não acaba nunca.
- Hum! Já sei! A senhora tem fábrica de linhas dentro da barriga, não é?
- Deve ser. Nunca entrei dentro de mim para saber. [...] Minha mãe foi comida por uma garoupa.
- Coitada! - exclamou Emília deveras compungida. - E era também costureira?
- Era, sim. Todas as aranhas são costureiras.
- E tinha também carretel na barriga?
- Está claro. Basta ser aranha para ter carretel na barriga.
- E de que cor era a linha?
- A cor não varia. É sempre a mesma para todas as aranhas. 
- Que pena! - exclamou Emília triste. - Gosto muito de cor vermelha e se soubesse de uma aranha de linha vermelha, iria morar com ela.
- Para quê?
- Para ver. Para sentar debaixo da jabuticabeira e ver aquela linha tão linda que sai, sai, sai e não acaba mais. [...]"

(Monteiro Lobato, Reinações de Narizinho) 

Nenhum comentário: