O primeiro Encontro em Roda no Núcleo Rural Córrego do Urubu foi assim...

A história de nosso primeiro Encontro em Roda é a história de como descobrir que uma criança e uma senhora tornam-se iguais brincando de pique-esconde... que as crianças ainda apreciam muito o gosto da cana-de-açucar nesse mundo cheio de confeitos artificiais... que as histórias são mais que passa-tempo e guardam significados que alimentam nossa fé... que aprender os passos de uma dança é nos permitir brincar se privilegiarmos a busca da descontração mais que a perfeição... que a Roda é um espaço que abriga nossos dons e talentos... que em nossa comunidade tem gente que faz coisas bonitas que podem virar presentes... enfim, que o encontro pode nos remeter a algo do essencial.

Não éramos muitos, mas experimentamos um encontro gostoso. Primeiro chegamos eu, Ananda e Julia, escolhemos um bom lugar e adornamos o centro da Roda carinhosamente. Ananda coletou pétalas de flores e rosas para enfeitar e colorir o centro. Logo chegou a Cida e conversamos um pouco sobre a vida, sobre contar histórias. A Cida contou que está fazendo um curso de leitura dramática e poética. Depois de segurar e brincar com a Julia, Cida foi brincar de pique-esconde com a Ananda. Gente! Que encontro! Ananda e Cida, uma criança e uma senhora que encontraram–se numa idade fora do tempo, as duas eram iguais brincando de pique-esconde, desde que não se considere a velocidade da Ananda para correr que deixa a maioria dos adultos no chinelo. Pude testemunhar com meus próprios olhos que, quando nos permitimos brincar, a alegria e o riso não mudam muito com a diferença de idade.

Depois chegou a Chandra bonita e animada. Contou que estava na Torre de TV vendendo roupas e acessórios. Ela vende lenços que a mãe manda da Índia e calças saruél que ela corta e a costureira arremata. Entrem no blog www.kailasharts.blogspot.com para conhecer o trabalho da Chandra. Quem sabe pode virar um presente para alguém? Quem sabe esse alguém é você mesmo(a)? Quem sabe possamos fomentar uma economia dentro de nossa comunidade?

Logo mais chegou a Lili, que não mora no Urubu, é minha irmã, e a meu convite veio colorir nossa roda comunitária com seus filhotes Ive e Ian. Neste momento Cida já cortava umas canas que havia ganhado de alguém no dia anterior e estavam escondidinhas em algum cantinho da Oca. As crianças a rodearam, todos provaram da cana, que estava tão concorrida que nem dava para começar a roda. Depois de todas a “lumbriguinhas” acalmarem-se, sentamo-nos em roda, eu, Ananda, Cida, Chandra, Lili, Ian e Ive. Julia passeava pela Oca com o Sérgio que chegou nesse meio tempo para cumprir a missão de cuidá-la. Era hora da história, mas essa não dá para contar aqui. Eu contei uma, a Lili contou outra dizendo que era uma história muito significativa neste momento de sua vida, uma história sobre fé. Chandra nos contou uma curiosidade muito curiosa sobre a incrível semelhança entre Brasília e uma cidade egípcia do ano 200 d.C. (se não me engano)... Fiquem curiosos! E Cida nos presenteou com uma leitura de Clarice Lispector, já exercitando seus talentos em leitura dramática e poética. As crianças, a esse tempo, já tinham corrido dali para brincar de pique-esconde. Tirando minha história, tudo ali surgiu no instante, de improviso, refletindo a descontração e a naturalidade de nosso estado de espírito e consagrando nossa roda um espaço de troca.

Daí, chegou Lana, que não mora no Urubu, para adornar nosso encontro com sua presença e sua ginga bonita bem na hora que nos preparávamos para dançar. Dançamos “Olhos que Falam”  uma coreografia composta por um homem inspirado na história de um casal de amigos cuja mulher, por alguma razão, perdeu a fala. É uma coreografia muito delicada e cheia de detalhes, boa para aprender em um grupo pequeno.

Chegou, então, a Sol e juntou-se a nós. Dançamos, repetimos, erramos, acertamos e dançamos mais. Já bem escuro e frio, resolvemos parar. Nos abraçamos em Roda. Batemos os pés no chão ritmadamente ao som de uma música africana, nos aterramos... até sentir que era suficiente.

Eu contei uma historinha curta que ouvi a Lili contar certa vez e que posso contar agora. Afinal, quem leu esse texto até aqui, merece. Quando somos bebê, no ventre de nossa mãe, estamos ligados pelo cordão umbilical e vivemos uma relação de receber, que mantemos por muito tempo... Mas chega uma hora que precisamos cortar esse cordão e estabelecer uma nova ligação... com a Mãe Terra, a Pacha Mama, e essa ligação é de receber, mas é também de dar.

Eu reforcei o propósito do Encontro em Roda que é, como diz o próprio nome, um momento para nós da Comunidade (do Urubu e amigos do Urubu) nos encontrarmos. Estava feliz porque cada um dos que estavam presentes eram pessoas que eu encontro bem menos do que gostaria e acho que os outros sentiam o mesmo e, que sendo assim, acredito que o propósito do encontro foi cumprido. Cida disse que foi um encontro doce, com gostinho de cana-de-açucar. Sol mencionou estar feliz com a proposta de termos um espaço para e tão somente nos encontrarmos.

Nos despedimos marcando o próximo Encontro em Roda para o último domingo do mês de maio, dia 30, às 16 horas. Que este encontro seja regado com mais presenças, mas que seja regado, especialmente, com a presença inteira de cada um. Assim poderemos, em comunidade, construir uma ecologia social e uma ecologia humana em par com a ecologia ambiental.

Nenhum comentário: