Menino que corre é rio - parte 1

Água pura brotando da fonte, o menino nasce. A amorosa árvore, debruçada sobre a nascente, protege como mãe a água nova.
Corre água, corre tempo... e o menino ensaia suas primeiras brincadeiras de borbulhar e correr para o riacho. Corre e gira no redemoinho. Alegria é água corrente! Vida é água fluente!
Água calma da lagoa é menino dormindo quieto, sonhando com águas profundas que infiltram a terra e nutrem as raízes de outras árvores que, com suas sombras, abraçam generosas outras águas.
Riacho, o menino continua correndo ao encontro de outros riachos e córregos para misturar suas histórias, memórias, e tudo o mais que vive de gravar em sua transparência. Cresce, engorda, espicha e vira formoso rio, estendendo seu corpo fresco por longos espaços, recortando terras ao meio. Na metade de cá, a pequena cidade que bebe de suas águas. Do lado de lá, crianças banham-se e brincam. Mais adiante, tecidos acariciam as mãos das lavadeiras que os mergulham na água enquanto encantam com seus cantos o rio que lava seus lençois e seus lamentos. Passa a cidade, passam as crianças, passam as lavadeiras. O rio também se lava ao percorrer seu caminho. É rio novo a cada dia. Passa outra cidade, mais crianças, mais lavadeiras. Passa dia, passa noite. Avista o mar. Corre... entrega-se, dilúi-se. É todo. Deita-se extensamente ao sol. Evapora. Passeia flutuando ao vento até não mais se conter. E então derrama-se, derrama-se, derrama-se... e beija a terra. Refresca, alimenta, infiltra o solo. Água pura brotando da fonte, o menino nasce...

Sumaya Dounis

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