sobre Fábulas

[...] as fábulas são, "tomadas em conjunto, em sua sempre repetida e variada causuística de vivências humanas, uma explicação geral da vida, nascida em tempos remotos e alimentada pela lenta ruminação das consciências camponesas até nossos dias; são o catálogo do destino que pode caber a um homem e a uma mulher, sobretudo pela parte de vida que justamente é o perfazer-se de um destino: a juventude, do nascimento - que tantas vezes carrega consigo um auspício ou uma condenação - ao afastamento da casa, às provas para se tornar adulto e depois maduro, para confirmar-se como ser humano. E neste sumário desenho de tudo; a drástica divisão dos vivos em reis e pobres, mas sua paridade substancial: a perseguição do inocente e seu resgate como termos de uma dialética interna a cada vida; o amor encontrado antes de ser conhecido e logo depois sofrimento enquanto bem perdido; a sorte comum de sofrer encantamentos, isto é, de ser determinado por forças complexas e desconhedidas, e o esforço para libertar-se e autodeterminar-se como um dever elementar, junto ao de libertar os outros, ou melhor, não poder libertar-se sozinho, o liberta-se libertando; a fidelidade de uma promessa e a pureza de coração como virtudes basilares que conduzem a salvação e ao triunfo; a beleza como sinal de graça, mas que pode estar oculta sob aparências de humilde feiura como um corpo de rã; e sobretudo a substância unitária do todo: homens animais plantas coisas, a infinita possibilidade da metamorfose do que existe".

(de Ítalo Calvino, Fábulas Italianas, citado por Regina Machado em Acordais: fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias)

Um comentário:

VaL disse...

Sumaya, achei linda a postagem. feita pra mim.
obrigada amiga.
bjs val